O Homem Duplo (A Scanner Darkly). Warner Bros - Filme
As drogas já foram razão para muitas discussões, armas engatilhadas e vidas perdidas, seja para as balas da guerra entre o Estado, os usuários e os traficantes, seja para o uso em quantidades letais.
Partindo desse pressuposto, temos uma visão das intenções de Philip K. Dick em seu livro O Homem Duplo, agora adaptado para o cinema pelas mãos do diretor Richard Linklater (que também fez Walking Life, um cult-movie que trata das relações humanas e o quanto nossas vidas são “reais”).
Philip K. Dick perdeu um grande número de grandes amigos para o mundo das drogas na década de 1960, e isso o levou a denunciar essa situação em sua obra, elaborando um futuro (2027) em que as drogas levaram os Estados Unidos a um nível de paranóia em que todos são vigiados o tempo todo. A situação é tão grave que, dentro das delegacias, os policiais se disfarçam com roupas especiais e só na rua andam com seus rostos “reais”, de forma que possam trabalhar disfarçados sem correr o risco de serem apanhados.
No filme, o diretor Richard Linklater manteve-se fiel ao livro, tendo para isso apoio das filhas de Philip K. Dick, Laura Leslie e Isa Hackett, que auxiliaram o trabalho do roteirista com notas e materiais de referência de seu pai, de forma que no filme temos um retrato fiel do universo imaginário do escritor.
O Homem Duplo foi realizado utilizando uma técnica de pintura digital, que é um avanço da chamada rotoscopia das décadas de 1960/70. Embora todo o material tenha sido filmado na forma tradicional, posteriormente ele foi digitalizado e “refeito”, pois os artistas digitais pintaram em cima dos fotogramas. Não se trata, portanto, de um efeito digital; o filme foi “refilmado” quadro a quadro, resultando numa graphic-novel de visual deslumbrante que caminha lisergicamente pela desestruturação da sociedade e da humanidade, no caminho das drogas de entretenimento.